Retrospectiva das telecomunicações em 2020 no Brasil

Quedas de conexão, usuários insatisfeitos no pico da pandemia, menos clientes de telecomunicações, batalha pela separação dos serviços de IPTV e streaming das operadoras de TV por assinatura... 2020 mudou não só o cenário da economia e saúde mundial, mas também impactou substancialmente o mercado das telecomunicações. Sabendo disso, preparamos uma retrospectiva dos principais acontecimentos no setor, além de apresentar um levantamento sobre o desempenho das operadoras.
Retrospectiva das telecomunicações em 2020

Neste ano, onde a pandemia do novo coronavírus chegou a abalar as estruturas dos principais motores econômicos do Brasil, o setor das telecomunicações não ficou para atrás. No início de março, a Anatel, SinditeleBrasil e as próprias operadoras se reuniram para firmar uma série de acordos relativos aos direitos dos consumidores e às condições da prestação dos serviços de internet, telefonia e TV para os clientes.
Quase paralelamente, o Governo decidiu estabelecer, no dia 20 de março, o Decreto Federal nº 10.282/20, que classificou o serviço das telecomunicações na categoria de “Serviço público e atividades essenciais”. Por sua parte, a Anatel, o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal e as operadoras de telecomunicações aderiram uma série de medidas para combater o contágio da Covid-19. Algumas medidas foram:
- Liberação gradativa de internet fixa e móvel
- Liberação de alguns canais pagos
- Priorização da assistência técnica nos estabelecimentos de saúde e urgências
- Flexibilização nos casos de inadimplência dos usuários em áreas de difícil deslocamento
- Envio de MMS para cidadãos com informações sobre a prevenção do vírus no país
No dia 3 de abril, a Justiça Federal em São Paulo concedeu a liminar que impedia cortes em serviços de internet e telefonia.
Destaques do ano
Neste ano, fomos acompanhando a evolução dos principais fatos que impactaram, de alguma forma, o funcionamento do sinal de televisão, cobertura móvel e as redes de conexão com a internet, especialmente a banda larga. A população passou boa parte do ano em casa, com diversas limitações e foram justamente os serviços de telefonia, TV e internet que encurtaram distâncias, proporcionaram distrações e promoveram diversos avanços na luta contra a pandemia.
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Internet sem cortes
Ao ser um serviço classificado como essencial ao longo da pandemia, o acesso à internet não pôde ser cortado pelos provedores, inclusive perante casos de inadimplência, como aconteceu em São Paulo, em abril deste ano.
As operadoras também foram notificadas pela Anatel no relativo à velocidade de internet contratada. O intuito da agência brasileira foi sempre manter o "Brasil Conectado", título que deu nome ao compromisso público assinado entre a Anatel e as operadoras.

Na pandemia, o 5G foi destaque
É verdade que tivemos que acompanhar muitas notícias sobre a atualização dos leilões do 5G no Brasil para este ano e ano que vem, e provavelmente por isso, também vimos como aumentou a disseminação de outro vírus: as fake news. Por outro lado, em julho, grandes provedores de serviço móvel pessoal começaram, ainda em caráter experimental, testes do 5G para aparelhos móveis e, finalmente, o leilão do 5G será realizado em 2021.
Crescimento das plataformas streaming e IPTV grátis
Como veremos logo abaixo, o número de assinantes de TV por assinatura caiu de um ano para o outro. Lógico que o fator pandemia ajudou a fazer com que isso se tornasse realidade, mas existem outros fatores, como os hábitos dos consumidores, que impactaram no aumento da presença de plataformas streaming e IPTV grátis.
Segundo dados da pesquisa realizada pelo Kantar Thermometer, na semana de 5 a 11 de abril, justo no isolamento social, o brasileiro assistiu diariamente cerca de oito horas de conteúdo streaming e televisivo, isto é, uma hora e vinte minutos a mais do que a primeira semana de março.

Foi interessante observar que o setor também deu destaque para este tipo de serviço, que foi adquirindo mais importância ao longo da pandemia. De fato, a operadora Claro chegou a disputar com a Anatel os direitos de certos canais lineares que também disponibilizavam conteúdo streaming. No final, foi acordada uma revisão da comercialização da TV paga no Brasil. De fato, em reunião extraordinária do Conselho Diretor, a Anatel lançou uma nova definição das regras de comercialização e consumo de TV via streaming. Um acordo do qual operadoras também saíram ganhando, visto que uma das principais motivações para adotar modelo de negócios é a diferença tributária: o serviço pelo SeAC é onerado com ICMS, Fust, Funttel e Condecine, enquanto serviços online pagam apenas ISS. A Claro e a Oi criaram já seus aparelhos de streaming, Claro Box e o Oi Streaming Box.
Desempenho das operadoras ao longo da pandemia
Classificado como serviço essencial, as operadoras deveram manter seu compromisso de não reduzir a qualidade do serviço prestado na pandemia. Com um aumento de 49% no tráfego de rede, notificado pela Anatel, mais brasileiros estavam conectados aos dispositivos móveis. Isso aumentou a necessidade de ter um serviço de qualidade, apesar dos tempos.
Tendo isso em consideração, realizamos um levantamento exclusivo sobre o desempenho das operadoras de internet, TV e telefonia, que observou:
- Reclamações contra as operadoras ao longo da pandemia;
- Evolução do número de contratos ativos para os serviços de internet, telefonia e TV;
- Ranking das operadoras com mais assinantes neste ano;
- Evolução das principais tecnologias que disponibilizam internet ao usuário: fibra e 4G;
- Levantamento sobre a velocidade média da banda larga em 2020.
Reclamações Anatel 2020
Apesar de que muitos usuários registraram queixas na Anatel ao longo deste ano, quando comparado com o ano passado, vemos que houve uma leve queda de reclamações, concretamente a redução porcentual foi de 1,7%.
Praticamente todos os serviços apresentaram queda na insatisfação dos usuários que registraram dados na Anatel. A telefonia móvel apresentou uma leve queda porcentual de 0,8% entre 2019 e 2020. Já o serviço de TV por assinatura e a telefonia fixa mostraram quedas maiores, de 29,35% e 20,91%, respectivamente. No caso da TV por assinatura, os serviços de streaming fizeram com que muitos usuários abandonassem os planos tradicionais de TV com canais lineares e contratassem pacotes feitos à medida e com conteúdo exclusivo, como são as plataformas de streaming mais conhecidas no mercado: Netflix, HBO Go, Amazon Prime e UOL Play, que além de séries também inclui esportes na sua programação. Por outro lado, a telefonia fixa continua descrendo em número de clientes, devido à substituição deste serviço por planos de telefonia móvel mais baratos, como os planos de celular pós-pago, pré-pago ou controle. Isso explica também que a telefonia móvel continua sendo o serviço com mais reclamações acumuladas e o serviço que tem mais número de clientes em todo o Brasil.
O único serviço em apresentar aumento nas queixas dos clientes foi a banda larga fixa, serviço essencial ao longo da pandemia para manter o Brasil Conectado. No total, o aumento foi de 21,57% entre 2019 e 2020. Atendimento e funcionamento do serviço foram os quesitos que mais acumularam reclamações para este serviço.
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Saber mais!Operadora com mais reclamações
Dentro do ranking das operadoras com mais reclamações, vemos que a Claro-Net foi a operadora com mais queixas acumuladas. Também é necessário entender que a Claro também é a provedora com maior número de clientes no país. Veja logo abaixo as operadoras com maior (e menor) satisfação dos usuários de telecomunicações ao longo deste ano*.
Fonte: Anatel
* Os dados foram coletados desde janeiro até novembro de 2020.
Estados com mais queixas
Já os estados que apresentaram maior número de queixas para os serviços de internet, telefonia móvel e fixa e TV por assinatura foram:
Estado | Nº de Reclamações |
---|---|
AC | 2.984 |
AL | 16.402 |
AM | 21.612 |
AP | 1.661 |
BA | 161.905 |
CE | 58.808 |
DF | 72.388 |
ES | 38.097 |
GO | 95.282 |
MA | 19.618 |
MG | 336.455 |
MS | 20.373 |
MT | 18.888 |
PA | 30.451 |
PB | 26.235 |
PE | 76.830 |
PI | 13.707 |
PR | 141.571 |
RI | 398.965 |
RN | 18.049 |
RO | 6104 |
RR | 1.338 |
RS | 114.405 |
SC | 81.937 |
SE | 19.232 |
SP | 851.334 |
TO | 5.505 |
Fonte: Anatel
Acessos e Contratos
A Anatel divulga, de forma mensal, a quantidade de acessos no Brasil relativos aos principais serviços de telecomunicações. Os dados mostrados abaixo foram fornecidos pelas próprias prestadoras à Anatel e, com eles, podemos obter os números de acessos de assinantes dos serviços de Banda Larga Fixa, Telefonia Móvel, TV por Assinatura e Telefonia Fixa, isto é, qual é evolução do número de contratos ativos para serviços de telecomunicações entre outubro de 2019 e outubro de 2020.

Banda Larga Fixa

Apesar da queda porcentual anual para todos os serviços, a banda larga foi o único serviço a apresentar crescimento anual de 5,43%

TV por Assinatura

De todos os serviços, a TV por assinatura foi o que apresentou a maior queda de contratos ativos.
Fonte: Anatel
Em outubro do ano passado, foram registrados 312 milhões de contratos ativos para os serviços de telecom. Esse valor baixou para 310 milhões em outubro de 2020, supondo uma leve queda anual de 0,42%.
Veja abaixo a evolução dos dados por operadora e por serviço quanto à quota de mercado.
Operadora | Serviço | Market Share 2020 |
---|---|---|
![]() |
Internet Telefonia TV |
28,2% 25,2% 47,3% |
![]() |
Internet Telefonia TV |
18,5% 33,6% 8,4% |
![]() |
Internet Telefonia TV |
1,9% 22,3% 1% |
![]() |
Internet Telefonia TV |
14,5% 15,9% 31,6% |
Fonte: Anatel
E a internet fibra e o 4G? Como foi sua evolução ao longo da pandemia?
Neste ano foi visto também a grande importância de ter uma internet de qualidade. Tanto a fibra óptica (ou ótica) quanto o 4G aumentaram sua presença no Brasil, graças aos esforços do governo e das operadoras em aumentar o acesso a este tipo de tecnologia ao longo de 2020. Uma das medidas mais importantes neste sentido foi o TAC entre a TIM e a Anatel, o qual vai ajudar a disponibilizar internet 4G até 2022 para vários municípios que ainda não tinham acesso a esta tecnologia.
Veja o gráfico que ilustra a divisão das principais tecnlogias que disponibilizam internet fixa.
Fonte: Anatel
Também a internet móvel apresentou crescimento na presença do 4G no Brasil. Veja os dados da porcentagem total dos acessos móveis com 4G no país.
Fonte: Anatel
Velocidade média de download
Por último, no nosso levantamento foi analisado também a velocidade média de download para internet residencial. Nesse sentido, apesar de todos os obstáculos passados pelos principais serviços de telecomunicações, foi visto que a velocidade média de conexão com a internet aumentou de 2019 para 2020. De fato, com os dados coletados até outubro deste ano, a velocidade média da internet banda larga obteve um aumento de 18,48%, comparando os dados para o mesmo período do ano passado.
Veja os estados com a velocidade de internet mais rápida do Brasil.
Estado | Velocidade em Mbps |
---|---|
AC | 29,57 |
AL | 45,14 |
AM | 57,45 |
AP | 40,68 |
BA | 50,56 |
CE | 64,06 |
DF | 47,52 |
ES | 41,07 |
GO | 36,80 |
MA | 52,61 |
MG | 50,13 |
MS | 31,4 |
MT | 28,07 |
PA | 47,06 |
PB | 42,24 |
PE | 51,79 |
PI | 59,7 |
PR | 33,26 |
RJ | 52,94 |
RN | 50,22 |
RO | 27,87 |
RR | 33,26 |
RS | 37,02 |
SC | 37,5 |
SE | 43,8 |
SP | 51,86 |
TO | 36,60 |
Fonte: Anatel
Conclusão
Como foi falado ao longo deste artigo, 2020 não foi um ano complicado para muitos setores, e para as telecomunicações talvez até mais, pelo fato ser considerado como um serviço essencial, e por estar presente na vida cotidiana de todos os brasileiros ao longo do isolamento e distanciamento social.
Para 2021 é esperado novidades quanto aos principais temas abordados neste artigo, como o leilão do 5G, a resolução da venda dos ativos móveis da Oi, regulamento dos serviços de streaming, etc.